domingo, 4 de setembro de 2016


Subject: Notícias sobre o "Blá,blá,blá domingueiro....",crônica de domingo.
Date: Sun, 4 Sep 2016 18:58:15 +0000


04/09/2016                                 Notícias sobre a crônica de domingo (texto antigo, revisitado com várias partes reescritas, atualizadas)

Olá, amigas (os) e colegas, companheiros na luta "Fora TEMER", meus leitores,

Tomei a decisão, a partir de hoje, que não mais enviarei por E-mail para vários de  vocês, a crônica de domingo intitulada "Blá,blá,blá domingueiro....". Não sou muito organizada e acabei por me confundir um pouco quanto às listas das pessoas que querem ou não continuar recebendo, depois da consulta que fiz a todos vocês. Para não cometer gafes constrangedoras, enviarei somente às pessoas que tenho certeza que querem receber.

Além disso, outras prioridades na minha vida pessoal estão surgindo. Felizmente estou vivendo experiências da ordem da vida privada (meditações, elaborações  tentando converter minha história em "hystória", enfrentamento de desafios, coragem de arriscar me deixar sentir coisas novas, experimentar usufruir de novos relacionamentos, sem negligenciar os antigos que valem a pena,etc) mais frequentes e bonitas. Como sou muito auto-exigente com os compromissos que assumo, acabo que às vezes, sobrecarregada, me imponho dar conta de arcar com esse compromisso com vocês, rigorosamente aos domingos. Tenho estado estudando muito (com muito prazer) , tendo trabalhos a apresentar, além do atendimento no consultório, entre outras coisas.

Outra razão, muito importante, é que como disse num texto passado, tenho me dado conta só depois, que recentemente venho cometendo sem perceber, alguns equívocos na escrita, inclusive às vezes, erros de Português. Não gosto disso. "Minha pátria é minha Língua". Quero ficar com mais tempo para trabalhar meu texto, revisá-lo, revê-lo, sem pressão.

Os escritos a partir de 2013, estão quase todos armazenados no Blog :  blablablazista.blogspot.com.br  Forneci este endereço a vocês, já algumas  vezes. Suponho que para alguns de vocês, que me leem sem o cuidado de dar retorno ao que escrevo, ou mesmo o fazem eventualmente, se interessando por alguns poucos textos e não por outros, por serem muito seletivos quanto à literatura ou mesmo, por falta de tempo, e, principalmente, por não terem qualquer envolvimento afetivo comigo, amoroso, ou de amizade, coleguismo próximo ou de companheirismo político, é muito mais agradável cada um ficar com a liberdade de usar o blog quando bem puder, sem se sentir convocado a ler o texto necessariamente aos domingos. Também, após a leitura domingueira, muita gente criou o hábito de me dar retorno quase imediato a respeito do texto. Eu adoro isso. Fiz muitos amigos por essa via, particularmente pessoas que curtem literatura, falar sobre a subjetividade, sobre interessantes acontecimentos do cotidiano, sobre mim e meu jeito corajoso e um tanto contrafóbico de me expor, que muitos admiram e uns poucos receiam. Estou muito interessada em modificar isso.

 Pelo menos, conto com a vantagem, de dificilmente alguém se enganar a meu respeito, quanto a quem sou, o que acredito, como me posiciono, que dificuldades tenho, etc. Sem, com isso, contudo, deixar de surpreender positivamente o outro. O fato é que também criei o hábito de responder a todos os comentários que chegam sobre meu texto. Ultimamente não tenho dado conta de responder a todas as mensagens. Mesmo depois de ter passado um pente fino, a lista de contatos continua muito grande e não responder aos amigos com atenção, me constrange muito. Procurarei, dentro do possível, continuar honrando esse compromisso, com aqueles que continuarem recebendo por E-mail. De mais a mais, vocês podem também fazer comentários no próprio blog. Com a minha burrice internética não sei como funciona isso. Mas com certeza vocês sabem.

Como comentei numa  crônica  passada, estou me encaminhando para a tentativa de sair da escrita predominantemente autobiográfica, incursionando mais para a ficção. Muito por conta da questão de eu me expor. Tenho acolhido com atenção e carinho o que algumas  pessoas que me querem bem têm dito sobre isso. Só não me concedo a irresponsabilidade e falta de ética de a título de sair do que alguns costumam chamar de "sincericídio", me tornar uma mitômana que engana as pessoas a respeito de quem é e do que pretende. Isso, jamais. Felizmente, fazer ficção nada tem a ver com enganar o outro. Muito pelo contrário.

Por conta da correria dos últimos tempos,  (o momento político grave que atravessamos tem requerido de mim, procurar me manter "atenta e forte" e isso demanda tempo, procurando acompanhar o noticiário da boa imprensa, passar informações para pessoas interessadas, etc, etc. Só precisei praticamente me retirar do Facebook, embora, pelo doloroso e grave momento que vivemos, eu esteja cuidando de dar uma passeada por lá)  o meu blog estava muitíssimo desatualizado. Mas daqui em diante, estou tentando, o mais rápido que for possível, corrigir isso. Se vocês derem uma olhada a partir de amanhã, provavelmente, poderão ver que já está quase tudo em dia.

Fazendo a atualização do blog, pude ver que há lá uma misturada de escritos. Não contemplo só o "Blá, blá, blá....". A bem da verdade, já o "Blá, blá, blá.....", incursiona muitas vezes, por coisas de ordem muito pessoal, que por isso mesmo, podem entediar o leitor, ou, dependendo de quem seja, instigar, certamente, por uma falta de cuidado de minha parte, uma certa curiosidade "mórbida" a respeito de quem sou, o que penso, com quem me relaciono, com quem brigo, etc.

 Se a curiosidade do leitor é "mórbida", não é menos  "mórbida" a minha confiança e credulidade no outro, perante quem eu me exponho em demasia. O que é pior: exponho, muitas vezes, amigos e pessoas queridas, citando nomes, às vezes de modo indiscreto e até invasivo. Estou cuidando com muito trabalho e empenho, de corrigir isso. Por exemplo, pude observar que cito inúmeras vezes o poeta Carlos Machado, talvez movida pelo desejo de repetidamente, expressar minha admiração por ele. A questão é o repetidamente. Fica "over". Pode ser entediante para o leitor e invasivo para Machado. Afinal, ele é meu amigo, mas tem sua vida em São Paulo, seu casamento, seus amigos, sua história pessoal. A mim não cabe, por mais que lhe admire e tenha uma amizade muito afetuosa, colocar Machado no "jornal". Certamente isso pode ser vivido como uma invasão de privacidade.

Muito frequente com ele (a partir de agora isso não mais acontecerá), mas não só com ele. Mesmo que eu não identifique as pessoas, pelo modo que venho escrevendo, é muito fácil um leitor curioso fazer um cruzamento de informações e identificar, às vezes para prejuízo de quem está ou esteve, ou eu gostaria que estivesse na minha vida, que papel, fulano ou beltrano faz na minha privacidade. Às vezes até, o que complica mais ainda, as inferências podem ser totalmente equivocadas.

Na verdade, andei me dando conta, que a construção do blog, ao invés ser alguma coisa por exemplo, com vistas a selecionar e corrigir os melhores textos, para uma possível publicação  (caberia ser essa sua finalidade), como penso muito na minha morte, embora querendo viver por muitos e muitos anos enquanto estiver saudável, tornou-se uma espécie de "testamento" do que sou, vivo, penso, etc. Uma espécie de confessionário póstumo. Muitos de vocês sabem que moro sozinha, tenho muitos amigos, mas à exceção de uma prima a quem quero muito bem e de quem me sinto próxima, posso dizer que praticamente não tenho família em Salvador.

 Com o passar dos anos todos os meus familiares se mudaram para outros estados ou cidades muito distantes e eu escolhi permanecer em Salvador. O familiar que embora morando em Porto Seguro, me dá assistência, telefonando sempre para saber de mim e me visitando é Rafa, meu filho adotivo colombiano. Além dele, minha querida mãe, com quem falo ao telefone diariamente  (às vezes várias vezes, porque ela esquece frequentemente se já nos falamos), mas tendo um diagnóstico de Mal de Alzheimer, que tem evoluído muito, infelizmente, é alguém a quem não posso fazer depositária de coisas que me interessem, preocupem, etc. Dona Myriam, que vive com meu irmão em Maceió, está num momento em que precisa e muito, ser cuidada.

A propósito, quero deixar aqui registrado, que quando eu bater as botas, (espero que demore bastante ainda) embora minha mãe tenha comprado uma sepultura para alguns familiares no Jardim da Saudade, eu faço absoluta questão de ser sepultada no Cemitério do Campo Santo ( infelizmente, conforme verifiquei, eles só vendem a vaga depois do óbito e ainda não possuem crematório), para que depois de 3 anos, se não me engano, meus ossos possam ser transferidos para a sepultura definitiva onde estão os restos mortais do meu amado pai. Em definitivo, quero ser sepultada junto de Joaquim Leal Gomes. 

Voltando ao blog, que é o que interessa aos leitores, pela razão que apontei, além da crônica domingueira, há lá correspondência pessoal com amigos e familiares, textos que julgo interessantes, depoimentos, etc. Tudo muito pessoal. Neste ano, particularmente a partir de maio, em que estive muito ativa na luta política contra o GOLPE e pela DEMOCRACIA, na qual, felizmente me mantenho, noto que há no blog uma proliferação de textos meus ou não, de caráter político e ideológico. Estou me comprometendo, desde hoje, a incluir no blog, tão e tão somente a crônica domingueira, que a partir de agora terá um caráter exclusivamente ficcional, ou pelo menos, com esta roupagem. Isso não exclui que eu necessite dar à ficção um caráter também político e ideológico. Não posso deixar de ser o que eu sou. Mas estou me comprometendo a dar ao blog um caráter estritamente literário. Deixarei as confissões, "desabafos" pessoais, etc, para o âmbito de minha troca privada com pessoas que participam da minha vida.

 De modo que a partir de agora, só enviarei a crônica por E-mail para uma lista bem menor, de pessoas com as quais faço uma interlocução pela via do amor, ou da amizade, em alguns casos, do salutar coleguismo ,e/ou, sem dúvida alguma, do companheirismo político. Pessoas que têm interesse muito particular nos meus escritos por conhecerem mais de perto minha pessoa e gostarem de mim. Dessas pessoas, adoro e espero, continuar recebendo retornos elogiosos ou críticos, dos meus escritos, que não passam de "garatujas literárias". Digo de novo. O endereço é  blablablazista.blogspot.com.br.   Boa leitura do Blog.
                                                                                                                            Um abraço afetuoso,
                                                                                                                        Marcia Myriam Gomes.
                                                                                                          


Subject: "Blá,blá,blá domingueiro..." e... Sem pé nem cabeça?
Date: Sat, 20 Aug 2016 20:34:26 +0000


Olá, amigas (os), colegas psicólogas (os) e psicanalistas, meus queridos leitores,

Amanhã, domingo, não haverá  "Blá,blá,blá....", o que chamo de crônica domingueira. Num acidente sem importância, fraturei o dedo menor do pé esquerdo. Muitos de vocês sabem que sou canhota. Talvez que sou canhota literalmente, não muitos saibam. Mas que sempre preferi andar pelas esquerdas, quem há de não saber?  A propósito, o dia 25 se aproxima e a mim, tudo parece um tanto plúmbeo, apesar das alegrias pessoais em tom de rosa. Quem preferir, pink, rose.

 Estou medicada e imobilizada por três semanas. Embora estabilizada e sem uso de insulina há já um ano, sou diabética. Isso requer especial cuidado com os membros inferiores. Por isso o ortopedista autorizou somente a ida ao consultório e, de resto, repousar. Mas é claro, por enquanto, vou desobedecer. Tenho muita coisa pessoal e profissional para fazer.

No entanto vou pelo menos repousar um pouco no fim de semana. Descansando, mas carregando pedra. Vou aproveitar para ler, estudar. Evitarei coisas que me deixem com o pé para baixo, a exemplo de sentar ao computador, para não ficar com puta dor.

Um tanto sem pé, mas a cabeça no lugar. Passou a onda de ressentimento. Também a dor de perder amizades, afetos, encontros, possibilidades. Afinal essas coisas se refazem com o tempo. Tenho feito valiosos novos amigos. Carinho especial por Vânia, minha colega no Moebius cujo pai, brilhante escritor, Senhor Nilton Ribeiro Coutinho, com 85 anos, publicou um excelente dicionário de palavras oriundas de línguas que mais contribuíram para a formação da língua portuguesa falada no Brasil ( africanas, árabe, espanhola, francesa, inglesa, italiana e tupi). O livro é um tesouro. Vânia está interessada em doar um bom número de volumes, se possível, numa espécie de evento em que se possa celebrar a obra de seu pai (por exemplo, em uma biblioteca, instituição, universidade, etc). Se alguém se interessar, pode falar comigo ou me escrever. Com prazer, enviarei um volume para ser examinado.

Voltando à cabeça no lugar, acabei por concluir que mesmo não autorizada, a pessoa que me chamou de "sincericida" tem toda razão. As coisas quando doem muito na gente, vocês sabem, em geral é porque mexeram num ponto fundamental. Tenho pensado muito ultimamente nos ganhos e perdas implicados no muito me expor, como costumo fazer. Particularmente expor meus próprios defeitos, buracos, tendendo a confidências muito "transparentes" . Eu, quando elejo alguém como confiável, mostro até as vísceras. Isso é uma insuportável idealização do outro. Na verdade, além de eu mesma, ninguém merece.Tudo bem que temos que assumir que somos todos castrados. Mas também não precisa ficar expondo a própria castração de bandeja para todo mundo ver. Se não, lhe jogam pedra. É natural que os homens tenham um certo "horror" à castração em si e no outro. Particularmente na outra.

 Afinal de contas, quem aguenta ouvir confidências de imperfeições (incompletude, defeito, dificuldade, etc) , particularmente na chamada por Lacan "comédia dos sexos", encontro entre homem e mulher? A mulher, para se fazer desejar pelo homem, precisa sim, fazer um certo semblant, fingir ser o falo, ainda que saiba que não o é. Por isso se enfeita, usa maquiagem, bijouteria, etc. Ela só pode ser amada pelo que não é. "Amar é dar o que não se tem àquele que não é".

  Assim como acaba, sim, sendo cruel, se ficar apontando a castração do outro ou da outra, só para ser sincero. É preciso achar um meio termo. Fazer um certo encobrimento, revestimento. Não deve ser à toa que atualmente estou com "mania" de usar écharpes. Obrigada, querida amiga Celinha, pelo presente de aniversário, tão feminino. Tanto quanto você. Quanto eu.

No livro que recebi e que ao final, tanto me desagradou por eu estar supondo ter sido escolhido ou indicado por alguém que não me conhece (volto a dizer que mesmo na ficção, não me reconheço como alguém "Tão viril quanto o homem mais macho. Uma mulher que nunca se vergava"), além das bem pensadas questões sobre o amor, que, se não me engano, mencionei no domingo passado ou antepassado, há também algo muito sábio para ser pensado por alguém que incorre em "sincericídio" : "há mentiras que resgatam e há verdades que escravizam." Afinal quem de nós não sabe que a verdade é não toda e tem estrutura de ficção?

De modo que agradeço a quem, ainda que inoportunamente, e talvez sem perceber(os apaixonados ficam encegueirados pelas palavras de seus objetos de amor), cometendo também um "sincericídio", me chamou de "sincericida". Com isso, não quero de modo algum dizer que pretendo me tornar uma mentirosa de carteirinha. Não é bem por aí que as coisas caminham. Fazer semblant não é de modo algum, mentir. Vai mais pela via do jogo de cintura, de um certo saber dizer revelando sem deixar de esconder, ou melhor, escondendo, sem deixar de revelar.

 Assim, como não posso abrir mão de dizer, que tanto a mulher quanto o homem que, estando enquanto tal, diante um do outro, precisa recorrer a evocar a presença ou palavra de um terceiro ou terceira entre os dois, não sei não. Só cada um sabe de si. Eu, por minha vez, sei que quando faço isso estou me cagando de medo do meu próprio desejo. Mas chega de interpretosas. Afinal, fora da análise em intensão (consultório, clínica, divã, etc e tal) isso, além de comprometer o necessário rigor é um tanto abusivo. Exercício de poder. Abuso de poder, querer ter a última palavra, fica melhor para "mulher macho". Essa não sou eu. 

Então, vou cuidar do pé à cabeça, querendo ficar um pouco sem pé nem cabeça, mergulhando nos contos de Clarice. Alguém melhor do que ela poderia responder a Freud, "O que quer uma mulher?". Feliz Aniversário a Jéssica, minha nora. Bom fim de semana a todos.
                                                                                                     Marcia Myriam.
                                                                                                                


Subject: "Blá, blá, blá domingueiro..."e..."Meditabunda"
Date: Sun, 14 Aug 2016 07:02:34 +0000


14/08/2016                                               MEDITABUNDA

Tentarei ser breve e leve. Afinal, não quero tomar seu tempo, nem quero tomar meu tempo. Afinal, fui capaz de perder mais de 50 quilos.À medida que fui me assenhorando do direito de me deixar desejar por homens interessantes, ainda que com "perrengues", atropelos, birras e outros dispositivos de sabotagem a mim e ao outro, deixei de ganhar peso quando como. Como muito menos do que já comi um dia, mas mesmo fazendo algumas transgressões como fiz hoje, comendo um pouco além da conta incluindo sobremesa, definitivamente não engordo. Tanto quanto minha taxa glicêmica não sobe mais mesmo quando como 4 brigadeiros no mesmo dia.

 É como se ficar gorda perdesse a função de escamotear o desejo. Isso, para quem, como eu, acredita nessas coisas de proezas da cadeia borromeana. Não que eu esteja uma beldade de elegância. Por conta de grave problema na coluna enquanto ia emagrecendo, não pude fazer atividade física. O problema na coluna também vai bem obrigada. Mas não fico exatamente feliz quando vejo a flacidez, a perda de músculos, até mesmo a pele enrugada. A gente não pode ter tudo de uma só vez. Apostar é também arcar com perdas. O que importa é que estou leve, sou leve. E muita gente me aguenta. Particularmente sabendo que continuo macia. Literalmente. Tenho uma pele macia, hidratada.

A propósito de macia, deixe que eu logo justifique o título. Nunca fui uma mulher de alegria efusiva. Tenho senso de humor, gosto muito de brincar com palavras, valorizo um brincadeira que seja inteligente e afetuosa, mas alegre, mesmo alegre, nunca fui. Gosto de ser assim. É uma questão de arcar com a parte que me cabe de minha própria "hystória". Com a "hystória" que tenho e pela qual sei que tenho que me responsabilizar, se eu fosse alegre, dessas alegres todo o tempo, seria uma desequilibrada, recorrendo ao que se chama defesa maníaca. Aquilo tipo "eu não quero saber nada disso, ainda...". Eu quero saber. Faço questão de saber. E nem sempre o que fico sabendo é bonito, é alegre. Particularmente a respeito de mim mesma. 

Pois bem. Tive um namorado escritor quando ainda era bem adolescente, que foi quem primeiro observou que meu nome não tendo acento, ao invés de soar Mácia ( a gente aqui na Bahia tende a omitir a letra "r") soa Macia. Aí, muito lisonjeiro e sedutor, assim ele passou a me chamar. Nunca me esqueci disso. Esse mesmo namorado, quando me via reflexiva como fico muitas vezes, ou mesmo triste, me perguntava querendo fazer graça: "Está meditabunda,  meu bem?" Dizia ele que a palavra que de outra parecida só conheço "nauseabunda" estava em Guimarães Rosa. Se estava ou não estava, não sei. O fato é que tenho estado meditabunda. Não estou infeliz, porque ando em geral, muito satisfeita comigo mesma. Mas estou triste, sinto pesar, talvez um certo luto. Ainda bem. Muito ruim seria se eu continuasse raivosa, quase destrutiva, como me apresentei no domingo passado numa crônica domingueira intitulada "Sincericídio".

Por que fiquei raivosa domingo passado, senão mesmo destrutiva? Várias coisas se juntaram num caleidoscópio sombrio. Primeiro julguei perceber no outro a incumbência de me recusar alguma coisa, na verdade, na minha leitura  (sempre a gente conta somente com a leitura que faz do outro, particularmente quando se desilude de poder ter com aquele outro uma interlocução "sincera". De repente a leitura está totalmente equivocada. Fazer o que? A gente só pode dar conta do que a gente mesmo diz, faz, pensa, age, inclusive as cagadas. O que vem do outro, só cabe ao outro. Isso quando o outro não está muito ocupado com seus outros importantes investimentos objetais. Se estiver muito ocupado, melhor você desistir e tentar investir em outra coisa), me excluir de algo cuja inclusão já me havia sido sinalizada como possível.

 Tudo bem. Acontece com as melhores famílias de Londres. A gente não é o centro do mundo. É perfeitamente suportável. Isso, se dito com todas as letras, claramente, explícito e sem perder a ternura, perfeitamente assimilável. Mas dito com semi-dizeres, mensagens um tanto recobertas de uma certa covardia (também pode ser timidez, reserva. Também pode ser qualquer coisa. A questão é a leitura) como quem não quer nada, ao tempo em que "gato escondido de rabo de fora", deixa claramente perceptível que foi solicitado, senão exigido a fazer isso, ah, a depender da pessoa, isso me causa um desapontamento, uma decepção, quiçá uma "decepação" conforme foi dito por um paciente. Importante observar que tomo cuidado para que meus pacientes não leiam meus escritos.

Logo em seguida houve por parte do outro um lapso que me deixou perceber que algo aconteceu não exatamente conforme me foi dito anteriormente. Tudo bem. Acontece com as melhores famílias de Londres. Claro!! Mas quando vem de um mesmo outro, aí aos pouquinhos começa a haver um acúmulo de desapontamentos. Na mesma noite, desculpem o palavrão, é meio foda. Mas tudo bem, vai-se levando. Mas quando vem do mesmo outro o seguinte comentário : "Fiquei perplexo ao saber que uma mulher que fazia parte do movimento LGBT vai se casar com um homem." Convenhamos!!  Eu, quando fico seriamente chocada com alguma coisa, viro bomba de efeito retardado. Não digo nada. Ou faço um comentário frívolo. A dor vem bem depois. Uma pessoa a quem você considerava em alta conta, cometer uma falta de sensibilidade dessa, se a conta era alta a ponto de você fazer confidências, pelo menos a mim, que um amigo em São Paulo chamava poeticamente "nervos à pele de flor", dói muito. Dói muito.

Então, um dia homossexual, para sempre homossexual? Como pensam os burros, rasos, preconceituosos que não estudam, homossexualidade é um disposição talvez até patológica? Será genético? Isso, dito logo a alguém que se dedica a estudar a sexualidade? Isso dito logo a alguém com experiência de mais de 30 anos de estudos e trabalho apontando sempre para a constatação de que a posição sexuada  é efeito de uma complexa multideterminação de fatores relacionados ao funcionamento psíquico que nada têm a ver diretamente com gostar de pênis ou vagina? Que muito mais tem a ver com coisas de pai, de mãe, de possíveis identificações, de questões afetivas concernentes ao desejo que nada têm a ver diretamente com o desejo estritamente sexual no sentido da genitalidade? Isso, dito a alguém que sabe ser a posição sexuada no sentido da mais "definitiva" escolha de objeto, um trabalho custoso de construção da própria subjetividade, passível de oscilações, porque a rigor, para além da anatomia, ninguém nasce homem ou mulher, porque isso é construído pelo sujeito passando por muitas e às vezes penosas vicissitudes?

Confesso, pra mim fica difícil. Aí que ocorre a trágica pergunta: "Esse cara está sendo burro, insensível, ou está sendo sádico, perverso?". Aí começa a doer muito. E a gente, pra não desmontar, tipo assim, cair no choro ( como faz uma mulherzinha "mimada" pelo pai, que não sabe ser feminista, nem serve como figura de autoridade, ocupando cargos compatíveis, que precisa de um homem pra trocar lâmpada, pra ensinar a mexer em equipamentos, etc, etc, e ainda por cima, gosta de cozinhar ), recorre à raiva. Mas não acaba aí. O pior está por vir. Aí chega a hora da gente perguntar: "O que eu fiz de tão maldoso a esse cara, que nem mesmo ele sabe?". Como, graças a Deus, sou analisada de muitos anos, sei que muita maldade, por conta das minhas questões com a minha subjetividade, eu fiz a esse cara. Mas, se citá-las para ele, inadvertido, provavelmente dirá: "Ah, que nada!! Nem levei a sério. Você estava só brincando. Foi tão divertido!!!". "Eu não quero saber nada disso, ainda...." E provavelmente, nunca. Por isso, às vezes parece a melhor saída interromper a "comunicação".

Então vamos ao pior. Há algo pior do que uma questão que você vem tratando com dificuldade, que vem causando sofrimento, a exemplo de se expor muito, por, tendo um severo supereu, preferir ser muito sincera, sem saber fazer semblant, porque suporta mal pensar que está enganando o outro, ser rotulada de uma maneira violenta, usando para isso um vocabulário provindo de uma pessoa que não lhe conhece, que você não conhece, mas busca respeitar a privacidade, evitando qualquer investida curiosa ou indiscreta a seu respeito, pelo que representa para o outro? Você pode ser até às vezes, birrenta, mal criada, até mesmo indevidamente ciumenta. Pode até fazer muita cagada por conta de suas questões mal resolvidas, seus sintomas. Quem não os tem? Mas dizer a uma pessoa que ela comete "sincericídio", a mim, que dou muita importância às palavras, parece muito violento. Infelizmente, talvez muito infelizmente, acabo, querendo ou não, por ser uma psicanalista. Brincadeira costuma ser algo muito sério. Às vezes cruel. A palavra "sincericídio" remete a duas coisas muito graves: homicídio e suicídio. Não se acusa uma pessoa de "sincericídio" gratuitamente.

Tenho como princípio, mesmo quando sou muito agressiva como fui no último "Blá, blá, blá....", tanto quanto possível, evitar recorrer a rótulos. Usa´-los, acaba por implicar num apagamento do sujeito. Posso até dizer e frequentemente a alguém: "Você está sendo agressivo." Mas dificilmente direi: "você é um grosso." Posso, até com frequência, dizer : "você está sendo irônico". Mas dificilmente direi: "você é um cínico". Se tiver intimidade com um amigo, no intuito de ajudá-lo posso até dizer: "você parece estar sendo movido por impulsos destrutivos." Mas dificilmente direi: "Você é um homicida". Assim como posso dizer a alguém que penso que está se auto-destruindo. Dificilmente direi : "você é um suicida".

Me orgulho de na minha atividade clínica jamais ter usado rótulos como neurose, psicose, perversão, histeria, fobia, etc, para etiquetar meus pacientes. A mim, isso parece abusivo. Nada tem a ver com o atual rigor conceitual da psicanálise. Enfim, talvez não parecesse no momento, creio que tanto quanto possível, tentei disfarçar. Disfarçar acaba por ser o pior expediente. Acaba por nos fazer perversos. Mas fiquei muito desapontada e ferida. Ao fim e ao cabo,  na crônica domingueira acabei por destilar um veneno que não é muito a minha cara. Felizmente, me considero muito honesta e corajosa para me defrontar com minhas próprias imperfeições, reconhecê-las e tentar elaborá-las de forma melhor. Por isso, pude sair do ódio e entrar no luto.

Não me fugiu à observação que fiz os acadêmicos de bode expiatório. Não tenho dúvidas que faço algumas restrições ao discurso universitário enquanto discurso dominante. Mas nada tenho contra os acadêmicos, enquanto sujeitos. Apenas prefiro que meus escritos, com certeza amadorísticos, recebam opiniões das pessoas que elejo como meus amigos, que os avaliam enquanto pessoas que gostam de mim. Não estou minimamente interessada em tê-los avaliados ( por mais elogiosas que sejam as avaliações) por pessoas que não conheço, particularmente as que criam rótulos a exemplo de "sincericídio".

 Creio que muitos dos meus melhores amigos são acadêmicos. Meu filho, por quem sinto tanto orgulho, é um acadêmico brilhante e entusiasta da UFSB, universidade onde trabalha. Denise Coutinho é a acadêmica menos acadêmica que conheço. Mas é uma acadêmica e amiga querida. Eu já ensinei na Ufba como professora do Departamento de Psicologia e de lá tive que sair contra minha vontade. Sou muito corajosa e prefiro não ser complacente com minhas imperfeições. Me apavora funcionar como pessoas que só vêm em si boas intenções e que se algo inadequado fazem, foi sem querer, ou "brincando".

Admito que no domingo passado estava cheia de ódio para não desmontar.  Tendo uma questão mal resolvida com a minha saída da academia, posso, muito bem, ter sentido, no domingo passado, inveja dos acadêmicos, supondo terem eles alguma coisa que eu já não tenho. Felizmente me sinto uma pessoa melhor, não me iludindo quanto a possuir às vezes, tendências destrutivas, maldosas, invejosas, intrigueiras, etc. Isso é de todo sujeito falante. Quem tem coragem, as enxerga , não as camufla, menos ainda esconde de si mesmo. Procura se defrontar, fazendo o melhor com isso. Como já disse, estou saindo do ódio para o luto, a tristeza. Felizmente, Denise me mandou recentemente o famoso poema de E. Bishop sobre perda e uma versão dele, muito linda, de autoria de Bruno Tolentino, meu falecido amigo. É isso aí. Que viva a poesia de Bishop e de Bruno Tolentino.

Quero pedir desculpas a quem se sentiu ofendido ou mesmo injustiçado com a crônica do domingo passado. Quanto à violência que atribuo ao rótulo "sincericídio", não retiro. Mas admito haver sempre uma atenuante para os apaixonados. Ficam siderados por seu objeto de amor, perdem a visão crítica sobre ele, e tão afetados pelo o que ele faz ou diz ficam, que acabam por se tornar menos cuidadosos com os demais. Eu sei disso porque sou uma incorrigível apaixonada. A propósito, não estou namorando. Apenas tenho exercitado meus encantamentos por cavalheiros que têm feito por merecer a Macia que eu sei ser. Tentando, sem promiscuidade, acolher que a minha maciez pode sim, de fato, ser tocada, mesmo por cavalheiros admiráveis e brilhantes.

 De resto, a vida segue. Tenho aqui comigo neste fim de semana Rafael, meu amado filho adotivo e Jéssica, minha nora. Tomei coragem e pedi a eles que me deem um neto ou uma neta. Receberam bem o pedido. Eles gostam muito, muito mesmo, de mim. Rafa disse que estava com tanta vontade de vir, que não dormiu na noite da viagem de ansiedade boa. Cada vez fico mais apaixonada por esse casal. Eu e Rafa temos assuntos intermináveis para conversar. Particularmente sobre seu entusiasmo e muito trabalho na UFSB. Nos adoramos como interlocutores um do outro. Eles me elogiaram horrores por estar saudável, me cuidando, me maquiando, cuidando de ficar mais bonita. A aniversariante é Jéssica mas eu também ganhei vestido novo.

 Hoje fomos ao "De Veneta" no bairro do Santo Antônio. Comemos Maiçoba e Feijoada de Feijão Verde. Foi uma farra  maravilhosa. Fátima, querida amiga, falamos em você e senti saudades. Rafa e Jéssica experimentaram a Roska de tangerina. Te ligo com certeza no dia 31. Graças a você, já cancelei os canais da Sky que não faço uso. Rafa vai me ensinar a usar milhas do cartão de crédito e vai "tirar" um vírus que tem no meu computador. Jamais serei uma feminista. Fálica, nem pensar. Sinto uma enorme alegria maternal com a presença deles, que infelizmente, já voltam na segunda ao meio dia. Estão querendo me levar à Colômbia no fim do ano. Muita alegria, mas meditabunda. Será que a bunda medita? Só se for se perguntando: por que fiquei tão flácida?

A orquídea finalmente desfolhou e nada do gentil remetente se identificar. Comprei um lindo vaso de calêndula para enfeitar o quarto de Rafa e Jéssica. Como já disse, adoro nome de flor. Pra não ficar sem falar no querido amigo Machado, ele me ensinou que Miosótis vem do grego e quer dizer orelha de rato. O fato é que enrolo, enrolo, e não saio da autobiografia. Até a próxima.
                                                                                                                             Marcia Myriam. 
"Blá, blá, blá domingueiro...." e...."Sincericídio"

07/08/2016   Olá, amigos queridos,

Hoje não pude escrever o "Blá, blá, blá domingueiro...." ficcional como prometi. Fica para a próxima. Gastei muito tempo tentando atualizar o meu blog, porque tomei a decisão de partilhar a crônica domingueira por E-mail, apenas com amigos próximos, pessoas que me conhecem  e POR SEREM PESSOAS QUE GOSTAM DE MIM, se interessam por minhas "garatujas literárias", que por enquanto têm importância, enquanto narrativas que dão uma certa conta da minha subjetividade. Aos demais leitores, estou disponibilizando a leitura do blog  blablablazista.blogspot.com.br , que por sinal, tendo também que estudar, não pude atualizar hoje, por completo. Está tudo ficando para a próxima. Menos a alegria de usufruir da companhia de pessoas de bela sensibilidade.

 Pensando no meu grande amigo e imenso poeta Carlos Machado, fico tentada a dizer que dispenso avaliações acadêmicas de meus escritos. A academia é um setor ao qual não pertenço, onde prevalecem critérios muito bons e muito válidos, para quem está lá dentro. Eu, já à essa altura da vida digo seguramente, que por escolha, trilho um caminho bem diverso. Acho muito interessante o discurso universitário, altamente relevante para a sociedade, mas há outras modalidades discursivas que dão bem melhor conta do meu modo de estar no mundo.

 Quando fico sabendo, que a despeito de quaisquer características pessoais e ideológicas criticáveis, sem dúvida, inclusive por mim, o maravilhoso poeta Bruno Tolentino, com quem passei agradáveis tardes escutando-o declamar Pessoa em inglês, foi desqualificado pelos acadêmicos, ponho minhas barbas de molho. Na minha avaliação de leiga, leiga muito sensível, a morte há alguns anos de Bruno foi uma perda para a literatura brasileira. Era um grande poeta. Um escritor com todas as letras.

 Sei que não sou escritora. Mesmo cuidando de incursionar pela ficção e de trabalhar o meu texto, muito longe estou disso. Me dou o direito de pedir aos acadêmicos que se possível evitem investidas um tanto voyeristas no que escrevo. Escrevo predominantemente para meus amigos. Agradeço muito a Raimunda Bedasee, que foi minha professora na pós-graduação do instituto de Letras da Ufba, pelos comentários elogiosos a meu texto. Mas aqui é um caso diferente. Raimunda foi minha professora numa disciplina que cursei como aluna especial, gostando muito da delicadeza com que trata o texto escrito por mulheres. Por isso, por minha vontade e por conhecê-la, faz parte da minha lista de E-mails. É uma pessoa das minhas relações, ainda que relações de trabalho.

 Há também a professora Antônia Herrera, que faz parte da minha lista de E-mails e de vez em quando envio meus escritos. Cheguei a cogitar de tê-la como orientadora, mas felizmente retrocedi a tempo,  em absoluto respeito, quase reverência mesmo, a Carlos Machado, no meu projeto de enveredar pelos caminhos literários da academia. Sábia decisão. Há também Sandro Ornellas que chegou a avaliar meu projeto de pesquisa e se disponibilizar a me orientar. Também retrocedi pelo mesmo motivo. Sandro e eu, por vários meses, mantivemos uma correspondência de trabalho. Ele também faz parte da minha lista de E-mails. São pessoas em particular. Não quero e longe estou de tomá-los como representantes da academia e me interessar por isso. 

Tenho muitas pendências e estou muito ocupada. Muita coisa para estudar, preparar um trabalho que na verdade deveria ter sido apresentado no ano passado, sobre "Estado Amoroso e Narcisismo". Sequer comecei a ler sobre isso.  "Amar é dar o que não se tem àquele que não é."( Jacques Lacan.). 

 Quanto à questão " àquele que não é ", há sobre o amor uma coisa meio por essa via num livro de José Eduardo Agualusa que tento ler, mas acho meio chato.Parece que quem escolheu o livro não me conhece. No mínimo não sabe o que é ser Marcia sem acento. Afinal de contas, acento pode acabar por ser uma coisa meio fálica. O livro trata sobre uma mulher "tão viril quanto o homem mais macho. Uma mulher que nunca se vergava;" Para ser o falo, ser mulher, é preciso renunciar a tê-lo, inclusive de maneira simbólica.

Por isso, eu prefiro me pensar como "macia", ainda que tenha meus momentos de braveza. Braveza honesta. Digo o que sinto. Sou avessa a ironias e ao ouvir sobre ela, botar de modo perverso, o dedo sobre a ferida do outro.Gosto de cuidar da ferida. Aliás, de certa forma, esse é meu ofício que exerço bem. Me orgulho de ser excelente ouvinte e não gostar de dar conselhos.

  A sensação que eu tenho é que por mim mesma, (sou muito sincera e isso às vezes pode ser interpretado como um homicídio.  Ou será suicídio?  Para não enganar o outro a gente se auto destrói? Será?) dei acesso a um outro a uma experiência absolutamente transitória da minha vida amorosa. Uma experiência tão pouco genuína que não se sustentou nem por um tempo mínimo. Cumpria apenas a função de tamponar um sintoma histérico. Esse sim, importante de ser cuidado com sensibilidade e delicadeza. Mas essas, quando estou mais triste como hoje, muito meditativa com o que pode fazer a linguagem de desencontro, tropeço, nas relações entre homem e mulher, às vezes fico a pensar, a gente só pode esperar de analistas ou poetas. Poetas verdadeiros. Infelizmente a interpretação feita pelo outro da minha experiência relatada,  parece ter sido a mais rasa e preconceituosa.

 Estou somente tentando devolver a porrada. Pelo menos, pela via identificatória, a personagem principal do livro de Agualusa  nada tem a ver comigo. Sou muito feminina, não me reconheço em discursos que elogiam mulheres poderosas que assim se posicionam no trabalho e na vida. Graças a Deus, eu jamais poderia ser chefe de nada. O lugar de analista pressupõe ser firme, rigorosa, mas numa posição feminina, onde exercer poder sobre o analisante é uma heresia, quase um crime.

 Na vida amorosa, acho uma delícia de vez em quando me vergar ao desejo do parceiro, adorando que ele tome iniciativas e me proteja. Não gosto de manejar ferramentas, trocar lâmpada, tomar providências burocráticas, chamar o bombeiro, etc. Como não tenho marido, felizmente a minha empregada não se recusa a fazer essas coisas para mim. E quando Rafa está aqui eu uso e abuso. Gosto de homem cavalheiro. Gosto também que ele tenha uma certa supremacia intelectual sobre mim, pelo menos em alguns aspectos, para que eu possa reverenciá-lo como mestre. Só assim, corro o risco de me apaixonar. Não estou nem aí para o que as feministas pensam disso, pedindo desculpas a Raimunda Bedasee, por quem tenho muito respeito.

Voltando à questão do amor e ao que pode ter de aproveitável no livro de Agualusa. Bonito nome. Sou fissurada por nomes. Todos vocês sabem. Como também sabem da importância dos nomes na psicanálise. Particularmente nomes próprios. A propósito de Agualusa, estou aqui pensando que recebi de uma amiga um link com receitas de sobremesas portuguesas. Estou louca para ter tempo para ver e experimentar, agora que não sou mais diabética. Tomara que lá tenha "ovos nevados". Adoro.

 Pois é, voltando ao livro. Lá tem assim: "Muito mais tarde, enquanto envelhecia, compreendi que o amor exige uma espécie de cegueira. Amamos não quem os nossos olhos enxergam, mas quem o nosso coração demanda. O ser amado é, quase sempre, uma invenção indulgente de quem ama". Fantástico, não é? Não foi à toa que Machado escreveu um livro chamado "Tesoura Cega", um certo tatear borgeano. Lacan, às vezes, acaba por não ter qualquer originalidade. Eu só não quero saber de ninguém que me invente uma mulher fálica. Ainda mais se for por uma mirada  de outra.

 Isso, é claro, não é para uma mulher, uma invenção indulgente. Portanto, nada tem a ver com o amor. Senão com uma disputa acirrada de ódio, que pode se traduzir em comentários maldosos, críticas mordazes "na brincadeira". Com isso, eu só tenho paciência com meus amigos homossexuais, porque os adoro, não os desejo e os compreendo. Muitos homens que se arvoram um discurso feminista, não se dão conta da sua intolerância com a nossa castração, ódio até, por, enquanto mulher, eu não ser portadora de nada. "Amar é dar o que não se tem."  Aí eu pergunto: pode amar quem não suporta a castração (imperfeição, defeito, buraco) em si próprio e no outro e vive omitindo-a escondendo, dissimulando, fazendo um semblant de que está tudo sempre muito bem, em nome de preservar "regras" do convívio social?

De mais a mais, a mim não interessa ser mirada, tornando-me  alvo da pulsão escópica de nenhuma mulher. Muito menos ainda mirar ela, fazendo de uma mulher, alvo da minha pulsão escópica. Isso pra mim já está resolvido, olhe, de hoje... Faz muito tempo. Eu, por mim, cuido de continuar cuidando da minha sexualidade. Cada qual que cuide da sua e de ser feliz fazendo suas invenções indulgentes como podem. Eu também vou me aventurando a fazer as minhas.

A propósito, ontem fui convidada por um homem muito sensível, para assistir a peça de teatro "BISPO". Inspirada em Arthur Bispo do Rosário. Um belíssimo monólogo encenado pelo excelente ator João Miguel. Texto de Edgard Navarro, que não sei quem é.  Fiquei muito emocionada e grata ao senhor (afinal tem 64 anos) por ter me convidado para ver justamente isso. E fui logo avisando: provavelmente vou chorar muito. Ele acolheu com delicadeza pegando lenço de papel no carro, para o caso de que eu fosse chorar mesmo. Imagino que vocês saibam que Bispo foi um artista plástico, sergipano, nascido em 1911. O Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, no Rio de janeiro, reúne hoje o conjunto de sua obra que atualmente é referência das artes plásticas no Brasil e no exterior.

Em 1938 Bispo foi internado pela primeira vez em hospital psiquiátrico após "delírio místico". Em 1939, transferido para a Colônia Juliano Moreira no Rio, passou a desenvolver seu processo criativo com a missão de reconstruir o mundo em miniaturas. Durante toda a peça Bispo fala um discurso delirante lindo, sempre ouvindo vozes, construindo sua arte e falando sobre ela. Uma das coisas que mais me emocionou foi ele dizer que o "doente mental" é mesmo como um colibri enredando a flor. Nunca pousa na terra. Fica sempre planando. Infelizmente dentro do teatro tinha um louco MESMO. Um senhor, na platéia, durante a peça de extrema dramaticidade, brincando com o celular. Esse, provavelmente, jamais será internado.

Bispo acreditava ter  uma missão ditada por seres do além. Era um enviado dos céus, um Cristo. E, indagando-se (só poucos podem imaginar com que angústia) sobre a sua origem como ser falante, provavelmente sem poder dar conta das traumáticas questões que cercam a sexualidade na constituição do sujeito, se respondia e nos respondia: "Um dia eu simplesmente apareci no mundo." Baixei a cabeça, e um tanto comedida, chorei. O meu cavalheiro, gentil, sem ver nada de estranho, me deu o lenço. Enquanto isso, LOUCOS na platéia davam risada e mexiam no celular. Limpei o rosto, e levantei a cabeça. O meu cavalheiro estava chorando. Acariciei calorosamente sua cabeça grisalha. Meu sábado estava ganho.

Segundo Bispo, a obra inspirada por anjos e pela Virgem Maria, seria apresentada ao todo poderoso no dia do Juízo Final. Pra quem não suporta saber como veio ao mundo, (os leigos pensam ser essa uma mera questão de matar a curiosidade numa roda de amigos na infância), também não há de suportar sair dele por um processo de decomposição da velha carcaça em que, como diz uma paciente minha muito sensível e corajosa, a carne vai se despedindo dos ossos. Fiquei muito grata a meu cavalheiro que veio aqui hoje, poder partilhar comigo das inquietações angustiantes que vivemos na nossa idade, ao constatar que vamos perdendo a memória, sem que estejamos com Mal de Alzheimer, que já não temos a mesma disposição física de antes, que às vezes queremos fazer amor, e de repente, o corpo pede sono, que já não podemos nos alimentar com comida pesada à noite e que o tempo, traiçoeiro, nos foge.

Como Bispo, há quem só suporte dizer que nunca se sentiu tão jovem. Provavelmente acreditando que assim vai permanecer até o equivalente do dia do Juízo Final. Quando acompanhado por uma mulher mais nova, irá desaparecer jovem, potente, com todas as carnes no lugar. Enfim, chega o dia do Juízo Final e Bispo joga álcool em torno de si fazendo uma roda de fogo. A platéia emocionada aplaude de pé. Ao sairmos, o meu cavalheiro me diz que não gosta de dar presentes que são consumidos e não ficam. Por isso, resolveu me dar Bispo de presente. De fato é um cavalheiro. Talvez Marciano.

 A propósito, fiz todo um discurso protestando contra quem eu suponho, faz uma leitura de mim, como se eu fosse, ou pudesse ou devesse ser uma mulher macho, como a "Rainha Ginga", guerreira, que sabe cogitar como um homem, possuindo a seu favor a sutil astúcia de Eva. Certamente não sou eu esta mulher. Não gosto de ter astúcia, ainda que seja de Eva. Quem, planando, acredita que um ladrão faz poesia concreta, não tem astúcia nenhuma. É uma boba romântica. Essa sou eu, graças a Deus. A única astúcia que tenho e tive é como a do Pequeno Hans. Perceber com acuracidade sofisticada o que acontece comigo e o que está na Letra do discurso do outro. Nomes. Sempre os nomes. Com esses dificilmente me engano, mas continuo dando escada para o outro subir. É que eu não preciso de escada. Como um colibri, vivo sempre planando. Ainda assim, não posso deixar de me lembrar que meu pai me deu o nome de Marcia, me supondo uma guerreira de Marte. Marciana, com certeza sou.Nunca pouso na terra. Fico sempre planando. Para confirmar isso, no cartório de registro meu pai cometeu o lapso de esquecer o acento. Guerreira, mas de Marte.

Dou-me conta que acabei de cometer um "sincericídio". Matei alguém ou me matei? Cada um escolhe seu dia do Juízo Final como lhe parece mais bonito e suportável.

P.S. Hoje, meu cavalheiro, confessou indignado que não gostou nada que eu chamasse o remetente anônimo da orquídea de punheteiro, em público. Segundo ele, alguém pode enviar flores sem se revelar, pelos mais belos motivos, sem que seja um punheteiro. Concordei. Gosto de críticas diretas, a sério, explícitas, sem perder a ternura. Ele disse também que o amarelo, cor da flor, representa saudade. Foi uma ótima dica. Assim, como alguém me sugeriu, vou por eliminação. Só um marciano, tanto quanto eu, sentiria saudade de mim. Ainda bem que existe o PT. Senão eu estaria roubada.
                                                                                                                         Marcia Myriam 


Subject: FW: "Blá,blá,blá domingueiro..."e...Mintocó ( 3 )
Date: Sun, 31 Jul 2016 20:46:58 +0000


Preâmbulos termináveis: Amigas (os) e colegas, primeiro peço desculpas por não ter enviado a minha "garatuja literária" no domingo passado. Felizmente está tudo bem comigo. Muito bem. Como há muito não estava. Apenas comi profiterole, sobremesa que adoro, e que talvez me traga recordações um tanto saudosas. O fato é que tive um sério mal estar gastrointestinal que durou todo o fim de semana. Um amigo querido observou que deslizo da maniçoba à comida francesa, contanto que não abra mão do que diz meu apetite. Achei engraçado.

Outro pedido de desculpa: venho notando, que apesar da minha reverência pela Língua Portuguesa, nos últimos tempos venho cometendo o que me parece sérios erros de escrita. Me dou conta só depois. Às vezes, muito depois. Fere um pouco narcisicamente pensar que são coisas da idade que vai chegando. Inapelavelmente a idade chega e vai nos levando, não é? Dei-me conta que na crônica do domingo antepassado, escrevi  "intensão", me referindo à análise em intensão que se alia à análise em extensão, com "ç". Devia estar muito mal intencionada. Mas não para aí. Com a finalidade de emprestar a alguns colegas do Espaço Moebius  meu trabalho de passagem para a psicanálise que apresentei em 2005 na Letra Freudiana aqui em Salvador, dei uma relida nele.

Além de identificar muitas incorreções conceituais ( isso não tem importância. Quase nada eu sabia de psicanálise naquela época. Estava iniciando bem do início minha formação teórica e estudei sozinha somente para escrever o trabalho e não submeti à correção de algum colega mais experiente), perceber que o discurso fica circunscrito ao registro do imaginário (isso também não tem importância. Além da minha inexperiência, isso reflete também o estilo de análise a que me submeti ) quando me exponho muito pela tonalidade autobiográfica do texto (grave defeito meu), observei que cometi vários erros de Português. É bem verdade que não fiz uma revisão da escrita. Mas nada justifica, por exemplo, que eu escreva que vou "destronar" o rei. Um horror!!! Meu querido amigo Boaventura, diante disso, deve estar revirando no túmulo. Peço desculpas a quem está lendo e a quem vai ler o trabalho, antes que eu faça a correção.

Para compensar esses graves erros de memória, com muito prazer informo a vocês todos que dei uma nova revirada na casa e finalmente achei o conto escrito pelo Sr. Josenilto. Lembram dele? O porteiro da noite do prédio do meu consultório que escreveu coisa linda sobre Ariano Suassuna e foi personagem de um escrito domingueiro meu. (Blog:   blablablazista.blogspot.com.br  ).  O conto se chama "Reflexões sobre o filme "A Vila". Quando eu ler, se ele autorizar, conto a vocês. Aproveito para informar que não vou poder ler agora e que continuo muitíssimo ocupada, sem poder ainda responder a vários E-mails de pessoas queridas, o que farei tão logo eu possa.

 Também tenho recebido muita coisa interessante que quero repassar para minha lista e não estou dando conta. Há em particular, um amigo queridíssimo e poeticamente dadivoso, a quem quero escrever com amoroso vagar e não deu tempo ainda. Só para vocês terem uma ideia, um amigo muito, muito querido me enviou o texto da fala de Marilena Chauí há dias atrás no TCA, já que não tive como conseguir um ingresso, mesmo adorando Marilena. A moral da história é que não tive ainda tempo de ler. Estou sem tempo, mas certamente cumprirei meu compromisso de fazer um telefonema no começo da semana. Amanhã ou depois. Sou intolerante com quem promete e não cumpre, seja qual for a razão.

Agora vamos ao mais importante. Ah, antes que me esqueça, o anônimo remetente da orquídea chamada "Chuva de Ouro" ainda não se identificou. A orquídea vai muito bem obrigada, cheia de vida. Mas obviamente, não é isso o mais importante. Jurei que no escrito de hoje não escreveria nenhum palavrão, mas não resisto. Quem manda flor sem se identificar é, no mínimo, um "punheteiro".

Então vamos ao que importa ainda de preâmbulos termináveis, antes de entrar no texto sobre "Mintocó". Decidi que a partir de agora vou tentar sair da predominante tonalidade autobiográfica no meu escrito de domingo, incursionando pela ficção. Também, tentarei, tanto quanto o meu inconsciente permitir, evitar usar um palavreado que por uma questão de rigor ético com meu ofício, deve ficar circunscrito exclusivamente aos espaços onde se exercem a psicanálise em "intensão" e "extensão".

 Depois que escrevo e envio, (não consigo ainda trabalhar meu texto antes de enviar, de modo, a com uma revisão, eliminar ou pelo menos exercer um controle consciente maior, sobre, o que sabemos, escapa, escapole, desliza no texto, para o que podemos chamar, com uma certa inexatidão, é bem verdade, de "Formações do Inconsciente"), tenho sentido um certo desconforto ao perceber que, sem querer (querendo?), posso estar vulgarizando a psicanálise (isso é grave) e expondo muito minha privacidade (isso também é grave), com uma certa permissividade excessiva com a constatação de, como diz Foucault, sermos montados pela linguagem, assujeitados a ela, queiramos ou não.

Tenho ouvido muitas opiniões de amigos escritores e sensíveis à escrita, que levam meu texto a sério, mas sempre observando que me privo de vir a poder, quem sabe algum dia, ser uma escritora, na medida em que, não trabalho meu texto. Isso, de, como diz um amigo escritor que considero brilhante, à moda de Drummond (quem sou eu, para isso?), engavetar o texto aposentando-o, para decantar. Só depois então, reescrevê-lo, levando em primeira conta o leitor, o destinatário, aquele a quem envio o texto, que quer lê-lo e "compreendê-lo". Na verdade, "compreender" não seria jamais o caso. Não gostaria de ser compreendida por meus leitores, nem acredito nisso. Melhor dizer, usufruí-lo.

Tenho observado que particularmente nos meus últimos escritos, tenho me permitido sem freio (isso será muito difícil que eu possa deixar de fazer. Muito difícil, mesmo!!) , usar e abusar de "brincadeiras" (a sério) com as palavras (isso é meu e não quero nem posso mudar), muitas vezes com mensagens cifradas só assimiláveis por um número reduzido de leitores (isso, definitivamente, tem que ser mudado e posso tentar fazê-lo). Não comando o rumo que toma meu texto e nem gostaria de fazê-lo. Ele simplesmente sai. Mas, depois de "saído" (lembrei agora que no interior se usa muito a expressão "você está muito saída". "Saída" no sentido de ousada, atrevida, exposta), devo cuidar de no mínimo dar uma relida, para torná-lo mais assimilável.

A propósito da decisão de sair da autobiografia, isso remete a milhares de discussões. Não vou entrar nelas. Não tenho estofo para tal. Mas posso pensar algumas coisas a respeito. Uma é a questão que muitos autores colocam de que todo texto é autobiográfico, do que não discordo. Isso não impede que possamos fazer alguns revestimentos no dito, principalmente para poupar o leitor de um enfrentamento doloroso com o que de "Real" nos acomete. O maravilhoso poeta Carlos Machado sabe fazer isso muito bem. É uma questão de sair da baboseira da escrita confessional. Drummond já nos advertiu que não vale a pena escrever sobre acontecimentos à moda de "desabafo". Isso acaba por ser um uso abusivo do leitor.

 Como aprendo com Machado, podemos fazer nossa "catarse", sem que o leitor se dê conta disso. Pelo contrário, possa fazer a sua. Nesse sentido, já que sendo todos nós seres de linguagem, inapelavelmente montados por ela, todo texto, autobiográfico ou não é ficcional. Gosto muito de me deparar com coisas que parecem ser paradoxais. Ao mesmo tempo, autobiográfico e ficcional? Sim, por que não? Talvez a ficção enquanto literatura, saindo da baboseira autobiográfica, seria apenas usar alguns artifícios linguageiros  que nos permitam supor, principalmente ao leitor, que estamos inventando. E de fato estamos.

Lembro de um exemplo interessante a respeito desta questão. Sou muito chegada a fazer "provas de amor". Muito romântica (que besteirada!!), tomada pela suposição que "amar é dar o que não se tem" equivalendo a tirar leite de pedra (nada) e oferecê-lo ao objeto amado. Pois então. Quando por volta de outubro a novembro de 2014 fui tomada pela preocupante notícia de que minha mãe tinha um câncer e que, com a saúde frágil, teria que se submeter a uma mastectomia, não contei conversa. Ou melhor, contei conversa. Naquela época, Dona Myriam não estava  ainda tão comprometida como está agora (a partir dos traumáticos acontecimentos que cercaram seu pré operatório, cirurgia e convalescença) do que gostam de chamar os  neurocientistas de Mal de Alzheimer. Então ela adorava ler meu "Blá,blá,blá....", minha crônica domingueira. Assimilava o que estava escrito (às vezes não) e se divertia. Eu, a maior parte do tempo, geograficamente distante dela, pensando como poder alentá-la certificando-a do meu amor, literalmente tirei leite de pedra. E isso dói.

O que fiz? Acho que todos vocês sabem que quando eu tinha 10 anos meus pais viveram uma separação conjugal muito mal digerida por minha mãe, até hoje. Creio que também todos vocês sabem que ela a partir dali sempre fez uma leitura desqualificadora da figura de meu pai. Leitura muito diferente da minha, que sou, ainda hoje, uma Édipa quatro cruzes. Apaixonada por meu pai e muitíssimo grata por tudo de bom que pude usufruir dele. Mas, por amor a minha mãe, contei conversa.

 Escrevi para ela ler, com essa finalidade, mas enviando também a vocês (a prova de amor tinha que ser completa. Para mim, por um lado com muita dor, por estar traindo a memória de meu pai, mas com alegria por estar alegrando muito minha mãe, por saber que muitos leitores meus iriam partilhar da leitura dela) inúmeras crônicas domingueiras relatando episódios pitorescos depois da separação conjugal, onde ela sempre aparecia como uma vítima de um marido e (o que é pior) pai de filhos terrível, que sequer lhes dava pensão alimentícia ( foi ela quem recusou a pensão, por orgulho de mulher ofendida. Hoje recebe todos os direitos de viúva deixados por meu pai).

 Ela se tornava uma verdadeira heroína, lutando corajosamente para criar os seus filhos e sobreviver dignamente. Quem de vocês não se identificou com ela e acreditou nos "fatos" que eu relatava? Eu recebia vários retornos ao "Blá, blá, blá...." dizendo (o que não é mentira) que minha mãe era uma mulher maravilhosa, lutadora, corajosa, às vezes até uma feminista. Eu, tirando leite de pedra, mandava todos esses comentários para ela ler. Dona Myriam ficava feliz da vida.E assim foi, até ela se recuperar totalmente da cirurgia. Não foi fácil tirar leite de pedra. Dar a ela o que eu não tinha. Não tenho dúvidas que esta minha incursão pela ficção contribuiu e muito, para minha mãe sobreviver à cirurgia e se recuperar. Muitas vezes, escrevi chorando, episódios muito comoventes e engraçados, onde ela era a heroína. Meu amado pai, não aparecia em nenhum relato. Mas ele, desde os 45 anos, está morto e, tenho certeza, compreenderia essa minha dolorosa incursão na ficção para ajudar a mantê-la viva. Então, fazer ficção é tirar leite de pedra. Me permitindo um pouco só o uso da linguagem cifrada, é trocar 1959 por "Sagrada Família", em prol do leitor.

Na verdade, era eu, mas não era eu quem escrevia. Não por acaso, meu nome é Marcia (sem acento-  talvez uma provável maciez?) Myriam. Me identifico socialmente como Marcia. Só muito recentemente aceito com naturalidade ser chamada de Marcia Myriam. Vai ver era Myriam, não Marcia, quem escrevia. Dona Myriam, jamais soube ser macia. Era "barraqueira". Eu, às vezes fico muito brava, mal criada. Particularmente com gente instruída, mas que se apresenta burra, e além disso, teimosa. Não tenho muito jogo de cintura com quem se apresenta arrogante na sua ignorância.Só lido bem com isso, com pacientes e alunos. Também posso ficar muito Myriam "barraqueira" se suponho alguém estar querendo me fazer passar por boba.

 Isso me lembra muito a conferência de Foucault que virou livro, intitulada "O que é um Autor". Nela, Foucault questiona a possibilidade da autoralidade (autoria) na medida em que ao invés de escrever, somos escritos pela linguagem, ficando, portanto, na condição de sujeitos afanisados. Creio que com todo esse blá,blá,blá, expliquei um pouco a vocês a minha decisão de fingir fugir do viés autobiográfico, dando ao texto revestimentos de invenção deliberada (não será isso o que distingue o verdadeiro escritor de um amador?), criando, sem que esteja fingindo, artifícios para que o texto venha a pertencer mais ao leitor, do que a nós próprios. Fugir da posse da palavra sobre nós, é impossível. Mas digamos, talvez possamos fazer com a invenção, um semblant, sem estar fingindo.Como diz o povo no interior, estamos "astuciando". Palavra usada no sentido de inventar.

Então para sacramentar a minha decisão de incursionar pela ficção, inventei a personagem Mintocó. Muito "me tocou" de tão sofrida. Por isso, a procrastinação à moda de Hamlet, que cada dia adiava a decisão de matar seu tio Cláudio, para vingar seu pai. Já estou na Mintocó (3 ), dizendo muito pouco sobre ela. Creio que não concluo hoje, mas lhes falo de Mintocó. Filha caçula de uma prole de quatro, todos nomeados pelo pai à moda de neologismos. Talvez, uma pequena exceção para a filha mais velha, um misto de nome e invenção: Sandreira de Oliveira Júnior. Esta, como lhes contei, pela minha invenção, estava pelo pai destinada a ser homem. Quando ele entrando na maternidade, abriu a fralda do bebê e viu a castração encarnada ao pé da letra, saiu emputecido. No cartório de registro, não suportando admitir o que vira, registrou-a com nome misto de mulher e homem, ainda chamada filho do pai: Sandreira de Oliveira Júnior.

Vamos seguindo a história de Mintocó, aproveitando, tanto quanto possível, para sair um pouco daquela coisa misteriosa, um tanto abusiva, da linguagem cifrada. Lembro que escrevi no texto anterior, Mintocó (2) : A Mintocó que inventei, me dói, me mói, como à cana para fazer caldo com pastel de palmito no Largo de Pinheiros. Me dói, me mói, me rói como o rato às entranhas da dama e do pai do homem.

Então já disse que Mintocó me dói, por ter sido inventada uma personagem muito sofrida. Me mói, como à cana para fazer caldo com pastel de palmito no Largo de Pinheiros. É outra metáfora de dor, de sofrimento. Quando eu morava em São Paulo, ia muito a uma pastelaria no Largo de Pinheiros, comer pastel de palmito com caldo de cana. Eu adorava. Mas, quando via a cana sendo moída, sentia muita aflição, aquela coisa de virar bagaço passando por aquela máquina. Provavelmente era eu que estava me sentindo moída pela máquina. A máquina da sociedade capitalista que destrói a ética nos reduzindo a bagaço. A máquina que leva até os supostos amigos a passarem uns sobre os outros, moendo-os e lhes roubando vagas de emprego, sem lhes permitir que voltem, quando de direito.

É claro que dói, mói, rói, é um crescendo rimado de palavras que remetem a dor. A imensa dor que a história de Mintocó me causa. A ponto de compará-la ao rato do famoso caso clínico de Freud, "O Homem dos Ratos". Um paciente obsessivo que tinha o pensamento aterrorizante de que ratos entravam no ânus das suas pessoas mais queridas: a mulher amada e seu pai.

Quando no texto Mintocó (2 ) e mesmo no Mintocó (1) me refiro à cadeia borromeana como se fosse uma personagem, na verdade estou tomando cadeia borromeana como equivalente à psicanálise. Na verdade, cadeia borromeana é um conceito psicanalítico de uma certa complexidade e para muitas pessoas, inovador. Eu entrei recentemente como participante da instituição de psicanálise Espaço Moebius. Tenho participado de várias atividades lá. Como tudo que tenho estudado, é relativamente familiar e conhecido, mesmo sendo os professores excelentes (já tenho 10 anos de estudo de psicanálise na Letra Freudiana em Salvador, já participei de vários cursos e seminários em outras instituições e também com pessoas muito preparadas como Alone  Gomes e Arlete Garcia, sem falar em Cristina Ferraz, minha "mestra" mais assídua e muito preparada. Além disso, tenho pelo menos 30 anos atuando na clínica, sou muito estudiosa e gosto de passear por outros campos de saber), então acaba que a Topologia da Cadeia Borromeana é o assunto de estudo que tem me instigado mais, despertado minha curiosidade. Por isso, tomo a palavra às vezes como uma personagem, metaforizando a psicanálise.

Quando, ao final do poema de Drummond intitulado "Declaração de Amor" e que vai ritmadamente dizendo lindos nomes de flor, eu digo que também ao poema se poderia dizer "meu repolho", é porque ganhei de um excelente poeta um poema comparando o processo de análise com um desnudamento tipo a retirada das folhas do repolho, quando não se sabe qual folha vai ser retirada. O poema, além de lindo, é muito sagaz, porque o repolho é feito em camadas. Em psicanálise a gente fala disso como a retirada das camadas de cebola. Ao dizer que se poderia acrescentar "meu repolho" ao poema de Drummond, estou fazendo uma certa ironia com o anônimo remetente da orquídea que se chama "Chuva de Ouro". Na verdade, estou dizendo que tomo muito mais um poema como o que recebi como uma espécie de declaração de amor, do que o recebimento de uma flor de remetente anônimo .

Será que deixei mais alguma coisa mal esclarecida pela linguagem cifrada? Ah, já me lembro. Teseu, tesão, minotauro, ariadne, labirinto. Não teve isso, no Mintocó (2) ? Já não me lembro em que contexto falei. Mas é que logo que retornei de São Paulo a Salvador, tive um namorado por quem fui muito apaixonada, pra variar, brilhante e erudito. O homem era esfusiante de inteligência e um perfeito cavalheiro. Líamos Joyce em inglês, Shakespeare em inglês, Lewis Carrol, e por aí lá vai. Querendo não fugir a fazer uma prova de amizade muitíssimo importante, muito mais importante do que as leituras eruditas em inglês, descumpri uma séria promessa feita a ele.

 Então ele rompeu comigo pra variar à moda erudita, me presenteando com o mito do minotauro escrito por Júlio Cortázar, com uma dedicatória mais do que cifrada (pelo menos para meu QI)  comparando-se ao minotauro que estava sendo sacrificado e se referindo a outras pessoas que tinham a ver com a história como Ariadne, Teseu, aquela nossa conhecida história mitológica do labirinto. Não entendi quase nada. Só sabia que ele estava rompendo comigo e se sentindo vitimado. Chorei pra me acabar, senti muita falta, mas sem arrependimento. Desde criança exercito o "NÃO ME VENDO". Lembram do poema de Augusto de Campos que lhes mandei ontem? Pois é. Não estou à venda. Pelo contrário, pago o preço. 

Mas vamos encerrar retornando a Mintocó. Como lhes disse no escrito anterior  (Mintocó 2) era uma  menina  linda.  A irmã mais apaixonada por ela era Telebrevindas. Imaginem o romance familiar: nasceu Sandreira de Oliveira Júnior, a mais velha, em seguida Telebrevindas, a segunda, e depois o menino, Doutor Bederodes Especialista em Doenças de Cabras e Bodes. Isso tirou o tapete de Telebrevindas. Um irmão menor, e homem? Qualquer hora vou falar exaustivamente sobre isso. Mas ainda preciso inventar. Resultado: quando nasceu Mintocó, mulher e caçula, Telebrevindas caiu de amores  por ela.

Encerro por hoje, finalmente referindo a uma muito interessante idiossincrasia subjetiva de Mintocó. Ela, por volta dos 6 a 8 meses, tornou-se no berço, coprófila das madeixas. Como? Sei lá !! Coisas da ficção. Quando Telebrevindas, irmã cuidadosa, ia olhá-la, ao amanhecer, encontrava-a com cocô enrolado aos seus cachos de cabelo. Pura verdade da ficção. Até a próxima.
                                                                                                                     Marcia Myriam Gomes
P.S.  Agradeço ao meu querido amigo Carlos Machado, sendo um erudito, rigoroso amante da Língua Portuguesa, nunca ter me chamado de Marcia com acento agudo. Meio "despimbolada" do juízo, e talvez, desocupada para o que rege a convenção, fui olhar em todos os E-mails desde 2013 quando nos tornamos amigos, por internet. Nos conhecemos pessoalmente somente em 2015. Também agradeço a ele ter passado a me chamar de Marcia Myriam, somente  quando eu autorizei, pelo que me elogiou. "Despimbolada", é com base em critérios como esses, que seleciono os amigos e aprofundo amizades.

sábado, 3 de setembro de 2016


Subject: Repassando Poema de Augusto de Campos, escrevi de repente, um texto lindo, com puta dor.
Date: Sat, 3/09/2016


Olá, amigas (os) e colegas,

Repassando o poema de Augusto de Campos enviado pela querida amiga, colega, parceira em várias posições políticas e na sensibilidade, Denise Coutinho. Também enviado pelo meu querido amigo e "enorme" poeta ( "Pássaro de Vidro", "Tesoura Cega", "Cada Bicho com seu Capricho"- infanto-juvenil-  "Mané Ventura, Gonçalo e Eu"-cordel) Carlos Machado, também parceiro em posições políticas, editor do boletim poesia.net que está no Facebook e você pode também receber por E-mail toda quarta-feira. O poema de Augusto, visualmente apresentado mais abaixo, além de muito lindo, pode nos fazer pensar um pouquinho neste fim de semana. A mim,  fez  me ver "não me vendo". De jeito nenhum.

É ele, Augusto de Campos, o autor do palíndromo (verso anacíclico) considerado mais perfeito, por ser a letra V de formato simétrico, sendo todo o poema simétrico por ter um número ímpar de caracteres (letras) divididos simetricamente pela letra V. Experimentem ler da esquerda para direita e da direita para esquerda:
                                                                                 R E V E R

 Muito infelizmente, não consegui passar para o blog aqui, a imagem, com a montagem concreta do poema de Augusto de Campos intitulado "Não me vendo". Muito lindo. O esperado seria que ele ficasse todo visual, ainda que "Não me vendo", dentro do quadrado abaixo. Aí a maldita tecnologia
                                    da internet (estão "VENDO", o diabo mudou o tamanho da letra e
                                    não me perguntem como se deu o negócio, que eu não sei contar
                                   o "causo") na qual gosto de ser retardada, fez uma brincadeira abs-
                                  trata de deixar o poema não visto. E no final das contas sou eu que 
                                  me visto de "oligofrênica" e sou vista pelo outro como tal. Assim, 
                                  me dou a ver. Não estão "VENDO"? "Não me vendo". Será que há
                                  comigo, alguma coisa problemática quanto ao "ESTÁDIO DO ES-
                                  PELHO"? Só perguntando a Narciso. Nome de flor. Por falar em 
                                  Narciso, com certeza nenhum problema quanto ao ESTÁDIO DA
                                 FONTE NOVA, sobre a qual, ele, se "VENDO", se jogou. Vamos 
                                 brincando ocupando o espaço no qual ficaria desenhado o poema
                                concreto. Então vou lhes contar um caso trágico. Terá algo a ver com 
                                o "CASO DO VESTIDO" de Drummond? Foi assim: vindo de Ibira-
                                taia para Salvador, finalmente me foi permitido frequentar uma esco-
                                la e particular. O Colégio Nossa Senhora do Carmo, em 1964. Não
                               podemos deixar de falar de GOLPE. Meus pais estavam se separando.
                               Dizia minha mãe que por causa de Lecy. terá sido? Será que ele ficou
                               lecyderado e com ela, minha mãe, desconsiderado? Então meu pai me cha-
                              mou no quarto, simples assim: "Minha filha, se você quiser morar comi-
                             go, continua estudando no Nossa Senhora do Carmo. (não deve ser à toa
                             que minha mãe, na idade idosa, tornou-se noviça carmelita). Segundo a ca-
                              deia borromeana, Sujeito não tem idade e não envelhece. Fica sempre no
                              viço. Noviciado. Aviciado? Então continuemos. Simples assim:.... se qui-
                              ser morar com sua mãe, vai para a escola pública. Eu, simples assim: "Não 
                              estou à venda." E caí no choro no qual estou caída até hoje. Queda. GOL-
                              PE. Queda de Dilma. Choro. Dilma é com certeza nome de pobre. O que
                              salva (ou condena?) é o sobrenome. Gosto de ser pobre. Preciso ser po-
                             bre. Não estou à venda. Já estou chorando pra me acabar. Se acabar, li-
                            teralmente é passar ao ato. Meu Deus, que eu nem acredito, por que fui
                            me encantar com essa tal de LETRA? De tanto chorar, borro meu (Bor-
                            romeu? brasão dos Urpias? o sobrenome que salva da pobreza? Por is-
                            so não o possuo?) olho. Borra a maquiagem. Se houver espaço, conto 
                            o caso de Magda. A menina, que segundo tia Zezita, quando enluarada,
                           roubava as maquiagens da mãe. Esse também é trágico.Por falar em so-
                           brenome, quando fui contar minha passagem (ao ato?) na Letra Freudia-
                           na, a burguesa da Cristina Ferraz disse assim: "para eu lhe apresentar ,
                          preciso saber de que família você é". Simples assim: "Minha família é
                          Gomes". Ela:" Gomes, de Orlando Gomes, como Alone?" Eu: "Não .
                          Um Gomes qualquer um aí. Não sei não." Como disse Augusto de Cam-
                           pos, NÃO ME VENDO. É nisso que dá ficar a noite toda acordada, de
                          sexta pra sábado, atualizando o blog, sob aquelas condições que me dei-
                          xam assim criativa, do nada. Criar o nada? Ex-niilo? Tenho certeza que
                          escrevi errado a palavra. Do nada. Desaviciada. Ex-pirada e com puta dor. 
                           Escrever. Apenas me dei conta que na falta do concreto, sobrava espaço. 
                           Fui preencher e foi saindo tudo assim, como um precipitar-se no abismo.
                           Nome dado por meu pai à Queda de Paulo Afonso. Por que Paulo Afon-
                           so caiu? Brincando um pouco, também....com esse nome.... Nome salva.
                           Quando é bonito. O que seria de mim, se me chamasse Mirella Márcia?
                          Provavelmente morreria de escopofilia. Filia. Filiação. Ação da filha. NÃO
                          ME VENDO. Custa muito caro. Os olhos da cara. Custa os olhos da cara?
                          A sabedoria popular conhecia Édipo? Lendo meu trabalho da jornadinha
                          que me deixando triste, não foi visto pela cadeia, dei-me conta que como
                         Édipo, tenho o pé amarrado. Quanto mais escrevo, me dou conta que jamais
                        se preencherá o espaço reservado ao poema concreto NÃO  ME  VENDO.
                        O jeito é deixar o espaço em branco. Inescritível? Ainda bem que tem a LE-
                         TRA e a categoria do necessário, que nunca foi aristotélica. Como conseguir
                       me calar e deixar que isso, passe em branco? Aquilo que não cessa de se es -
                        crever. VER, mas NÃO ME VENDO. É manhã de sábado. Vou tomar banho,
                        escovar os dentes. Com que dinheiro cuidar do dente de nordestino, que vai
                       cutucar São Paulo de vara curta, queném demônio?  Sou uma escritora, com
                       puta dor. Viva Augusto de Campos. NÃO ME VENDO. NÃO SE VENDA 
                       os olhos de Édipo. Vou tomar café da manhã.

                              

 Abaixo, o inevitável espaço em branco. Logo em seguida, bem lá em baixo, Machado recitando o poema de Augusto e dando uma liçãozinha a quem interessar possa. Não é que a letra cresceu de novo, sem que eu nada saiba sobre isso? Será uma
                                   ereção (broxou!!!) matinal da LETRA? Só escrevendo em mai-
                                  úscula, para disfarçar a broxada. Sem problema. Isso acontece
                                 com as melhores famílias de Londres. Mesmo as que portam 
                                 um brasão, de brasa? 

 
 
naomevendo
 
"É isso: não me vendo não se venda não se vende.
 
Ética, senhores. E tirem a venda dos olhos" . ( Carlos Machado)
                                                   Um abraço,
                                             Marcia Myriam Gomes